Durante cerca de 50 minutos de vôo num helicóptero, a imagem é a mesma em qualquer lugar para que se olhe: a imensidão do oceano com suas águas de um intenso azul escuro, onde é impossível distinguir a linha do horizonte. Mas logo em seguida se vêem dezenas de plataformas com a chama acesa em suas torres de segurança. É o complexo da Bacia de Campos, uma cidade em alto mar, com população, literalmente, flutuante de 40 mil pessoas e que já pode ser vista até por satélite no litoral brasileiro, tamanha a concentração de luz.
Com área de cem mil quilômetros quadrados, a Bacia de Campos vai desde a cidade de Vitória (ES) até Cabo Frio, no litoral fluminense. Os campos estão localizados a distâncias que variam de cem a 200 quilômetros da costa do Rio e garantem a produção diária de 1,25 milhão de barris de petróleo, o que equivale a 80% da produção nacional.
A Bacia de Campos — que completa este mês 30 anos da sua descoberta — é sinônimo de produção de petróleo no Brasil e constitui uma riqueza à parte na contabilidade nacional. Suas 64 plataformas são responsáveis por um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 18 bilhões, ou cerca de R$ 54 bilhões por ano. Segundo os últimos dados do IBGE, esse PIB é maior do que o do estado da Bahia (R$ 52 bilhões), equivale ao PIB somado dos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e é praticamente igual ao de toda Região Norte (R$ 57 bilhões).
Para dezembro, recorde de produção num só dia
O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, diz que a meta é bater o recorde de produção de petróleo em um único dia em dezembro próximo. E quem vai contribuir será Campos. Para isso, a estatal conta com o início de produção da plataforma P-43, que está a caminho para ser instalada no campo de Barracuda, também na bacia. Com capacidade total para produzir 150 mil barris diários de petróleo, tão logo for instalada, a P-43 poderá atingir uma produção até dezembro de 90 mil barris por dia.
Além desse equipamento, segundo o diretor, outros poços em Campos deverão elevar sua produção. Isso será possível graças ao trabalho de recuperação que os técnicos estão fazendo nos poços mais antigos, que apresentam queda na produção. O último recorde foi de 1,64 milhão de barris/dia, em março de 2003:
— Vamos bater o recorde de produção. E isso não é um sonho, é concreto, e a Bacia de Campos continua sendo a estrela principal.
Os números da Bacia de Campos são impressionantes. As plataformas, com suas usinas termelétricas, têm capacidade de gerar energia elétrica para iluminar uma cidade de um milhão de habitantes (640 MW). São consumidas por semana 512 toneladas de alimentos e geradas 38,4 toneladas de lixo. O atendimento às plataformas é feito por 120 embarcações e navios que prestam serviços de apoio. São cerca de mil poços interligados em 4.200 quilômetros de dutos no fundo do mar. As instalações em alto-mar incluem campo de futebol, tratamento de esgoto, enfermaria e até cinema, afirma o gerente-geral da Unidade de Negócio da Bacia de Campos, Plínio César de Mello, há 25 anos na Petrobras. Ele é um dos três “prefeitos” da bacia, dividida em três unidades.
Os funcionários que trabalham nas plataformas da Petrobras são transportados em 6.300 vôos mensais de helicópteros. Os plantões em alto-mar incluem jornadas de 14 dias nas plataformas com 21 dias de folga em terra. O trabalho, em turnos, é contínuo 24 horas por dia.
— É um trabalho sofrido, porque seja que dia for, Natal, Ano Novo, seu aniversário, ou doença de filho, o trabalhador está na plataforma — diz Mello, que já trabalhou embarcado, e lembra que, às vezes ao chegar em casa, a filha de dez meses não o reconhecia.
Dos 150 trabalhadores da P-18, seis são mulheres. Uma delas é Erica Lelis Cruz da Silva, responsável pelos sistemas de operação da plataforma como, por exemplo, os geradores de energia elétrica. Erica trabalha embarcada há um ano e três meses e diz que namora um petroleiro da plataforma de Pampo, na mesma Bacia de Campos. Eles se conheceram em um curso da Petrobras. Erica afirma que hoje os petroleiros já convivem sem preconceito com as mulheres nas plataformas.
— Agora é comum mulheres trabalhando nas plataformas. Não sinto discriminação, todos me respeitam — diz Erica.
Mas os homens reconhecem que o trabalho de embarcado é difícil e, em alguns momentos, eles também choram de saudade ou de tristeza. Pedro Luiz Caldeira, que trabalha na plataforma de Carapeba 2, desembarcou em Macaé de emergência para tratar de forte dor de dente. E conta que já passou por maus bocados.
Supervisor de contratos, Caldeira lembra com tristeza quando soube, há dois anos, que sua mãe adoecera. Conseguiu autorização especial para desembarcar de emergência, mas foi surpreendido com a notícia de que era tarde demais: ela havia morrido.
Outro momento difícil foi quando, num acidente, bateu a cabeça num equipamento:
— Tenho uma placa de titânio, enxerto ósseo e seis parafusos. Foi uma cabeçada e o capacete enterrou.
Carlos Eli Chiarelli, 35 anos — dos quais 16 na Petrobras — diz gostar do trabalho em plataforma, mas não esconde a satisfação em cada volta para casa. Técnico de manutenção, ele mora no Espírito Santo com a mulher e a filha Rebeca, de cinco anos. Chiarelli gosta do trabalho que faz, gosta do clima de amizade com os colegas, mas garante que, muitas vezes, a saudade bate mais forte:
— É muito duro ficar ausente por tantos dias. Estou chegando à saturação — desabafa.
Fonte: O Globo On
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